Adenomiomatose da vesícula biliar é uma condição benigna, degenerativa, caracterizada pela hiperplasia da camada mucosa e muscular própria, fazendo com que ocorra a invaginação do epitélio, formando pequenos espaços na parede da vesícula, conhecidos como divertículos intramurais (seios de Rokitansky-Aschoff – RAS).
Existem três apresentações macroscópicas:
– Forma segmentar (>60%), acomete uma porção entre o infundíbulo e o fundo.
– Forma fundica (30%), acomete apenas o fundo da vesícula biliar.
– Forma difusa (<5%), acomete toda a vesícula biliar.
Habitualmente é diagnosticado em paciente com mais de 50 anos, com uma proporção semelhante entre homens e mulheres. O achado frequentemente é incidental, com uma prevalência entre 1 e 9% na população.
Sua patogênese não é bem estabelecida. Suspeita-se que distúrbios de motilidade da vesícula biliar, que aumentam a pressão intra-luminal ocasionando a protrusão do epitélio para a camada muscular, estejam envolvidos. Inflamação crônica da vesícula biliar, independente do fator, também aparenta ter um papel relevante. Anomalias na junção biliopancreática e reabsorção excessiva de bile pela vesícula, são outros fatores suspeitos que podem levar ao quadro.
Pacientes normalmente são assintomáticos ou oligossintomáticos. Raramente apresentam dor no quadrante superior direito, similar a cólica biliar, porém como metade desses pacientes apresentam colelitíase associada, é difícil definir a causa específica da dor. Alguns pacientes apresentam sintomas gastrointestinais não específicos, como náuseas, vômitos, flatulência, que se tornam progressivamente mais frequentes. No entanto, para que os sintomas sejam atribuídos a adenomiomatose, outras causas principais devem ser excluídas, pois nenhum dos sintomas é específico.
Adenomiomatose consiste em 25% dos casos de espessamento da parede da vesícula biliar (>3 mm). Os principais diagnósticos diferenciais são: neoplasia, pólipos, adenomas, lipomas, colecistite aguda, colecistite crônica, dentre outros.
Como não há sintomas específicos, os exames radiológicos têm um papel fundamental no diagnóstico. O exame inicial para o diagnóstico é a ultrassonografia de abdome, apresentando uma sensibilidade de cerca de 65%. Os sinais sugestivos são o espessamento da parede da vesícula, imagens intramurais de pseudocistos que correspondem a RAS, e artefatos de reverberação acústica (caudas de cometa), que correspondem a pequenas calcificações. A ecoendoscopia aumenta a sensibilidade do exame, porém não deve ser utilizado como exame inicial. A tomografia computadorizada apresenta uma sensibilidade entre 50 e 75%, porém não é um bom exame para diferenciar adenomiomatose de neoplasia. A ressonância magnética ou colangioressonância são os exames padrão-ouro.
O tratamento deve ser realizado conforme o quadro clínico e a suspeita radiológica. Para pacientes sintomáticos a colecistectomia é indicada. Para pacientes assintomáticos com acometimento do fundo da vesícula, a cirurgia não é indicada. Pacientes assintomáticos com acometimento difuso ou segmentar, devem avaliados individualmente. Se o diagnóstico for incidental, observado na peça cirúrgica (após a colecistectomia), nenhum tratamento adicional é necessário. Se houver dúvida diagnóstica (suspeita de neoplasia), a cirurgia deve ser realizada.