Cistos biliares são definidos como dilatações císticas que envolvem a via biliar em um único ou múltiplos segmentos, seja intrahepático ou extrahepático. Eles são associados com complicações como estenoses ductais, formação de cálculos, colangite, pancreatite, cirrose biliar secundária, além de em alguns casos serem considerados como condição pré-maligna.
Sua incidência varia conforme a região, sendo mais comum nas populações asiáticas, chegando em algumas estatísticas a 1:1000. Nas populações ocidentais essa incidência varia de 1:100000-150000.
A apresentação clássica inclui a tríade: dor abdominal, icterícia e massa abdominal palpável. Porém, a maioria dos pacientes irá apresentar apenas um ou dois dos sintomas. Devido a inespecificidade dos sinais e sintomas, muitos dos diagnósticos são realizados apenas durante exames de imagem.
Sua etiologia não é bem estabelecida, sendo a teoria de Babbitt a mais popular. A teoria atribui a formação dos cistos a uma anormalidade na junção do ducto pancreático com o ducto biliar comum. Quando essa junção ocorre 1 a 2 cm proximal ao esfincter de Oddi, um canal longo não revestido pelo esfíncter é formado, permitindo o refluxo de secreções biliares e pancreáticas. Como consequência ocorre um aumento da pressão que leva a dilatação, inflamação, lesão epitelial, displasia e neoplasia das vias biliares.
Existem diversas classificações para os cistos biliares, sendo a de Todani, descrita em 1977, a mais utilizada. Ela classifica em 5 tipos os cistos biliares:
Tipo I: Cisto limitado ao trato biliar extra-hepático (50 a 80% dos casos)
A: Dilatação cística sacular de toda a via biliar extra-hepática
B: Dilatação focal de um segmento da via biliar extra-hepática
C: Dilatação fusiforme de toda via biliar extra-hepática
Tipo II: Divertículo verdadeiro de ducto extra-hepático (2% dos casos)
TIpo III: Coledococele ou duplicação duodenal (1,4 a 4,5% dos casos)
Tipo IV: Múltiplos cistos (15 a 35% dos casos)
A: Cistos na via biliar intra e extra-hepática
B: Cistos na via biliar extra-hepática
TIpo V: Cistos intra-hepáticos, sem acometimento extra-hepático (Doença de Caroli) (20% dos casos)
Jabłońska B. Biliary cysts: etiology, diagnosis and management. World J Gastroenterol. 2012;18(35):4801-4810. doi:10.3748/wjg.v18.i35.4801
Não há exame laboratorial específico para o diagnóstico.
A Colangiorressonância magnética é o exame padrão ouro para o diagnóstico de cistos biliares, com uma sensibilidade que varia de 90 a 100%. A colangiopancreatografia retrógrada endoscópica tem maior acurácia diagnóstica, porém por ser um exame invasivo, com maiores taxas de complicações, sua realização é restrita a casos selecionados.
O tratamento varia conforme a classificação e acometimento hepatobiliar:
Tipo I e IV são tratados com a excisão completa do colédoco e hepaticojejunostomia em Y de Roux ou hepaticoduodenostomia.
TIpo II é tratado com a excisão simples do cisto.
TIpo III (coledococele) é tratado com esfincterotomia e biópsia do epitélio do cisto para excluir malignidade.
TIpo V é tratado de acordo com a extensão da doença. Hepatectomia segmentar em casos de acometimento unilobular ou localizados, ou transplante hepático quando há acometimento difuso.
REFERÊNCIAS: